terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A aprender a ser...

A pedido de várias famílias, eis que chega a primeira mensagem do que se auspicia vir a ser o meu diário de bordo desta nova jornada da minha vida...
Aproveito para descansar os leitores mais preguiçosos, não conto fazer deste espaço uma narração descritiva e aborrecida (ou não!) do meu dia-a-dia do outro lado do Mundo, mas sim onde pretendo contar os episódios que, seja lá por que motivo, valham a pena ser revelados. Bons momentos, maus, caricatos, irritantes, hilariantes. E, claro, fotos, muitas fotos!!!!
Eu sei que já começo atrasada, mas sou Portuguesa ou não?
A verdade é que estas primeiras semanas foram estonteantes! Mas vamos lá tentar fazer um resumo:
Porto - 12h do dia 24.01. Pagar 135€ de excesso de peso depois de tirar uns 5kg da mala!
Frankfurt. Falar português com um angolano, depois de alguns minutos em amena cavaqueira em inglês (até ele perguntar de onde é que era!)
Munique (Sim, leram mesmo bem... !!)
Shanghai - 15h do dia 25.01 (+8h)
Chegada a Shanghai fiquei extremamente comovida com a recepção que tinham para mim!Depois da reunião com alguns dos Contactos (C13 e C12), jantarzinho num Japonês, à meia-noite, e já num bar do Bund, com vista privilegiada para o rio, um fogo de artífício sobre toda a cidade, celebrou em grande festa a minha presença!
Coincidiu também com a entrada do Ano Novo Chinês, desta feita, o Ano do Búfalo.
Quarenta horas depois de ter acordado, caí na cama (obrigada, Rita, pela hospitalidade!) para acordar no dia seguinte, Segunda Feira, às seis da tarde, encomendar uma pizza e ficar em casa a ver um filmezinho na tv...
Dia seguinte, depois de 3horas de autocarro, chego com o Alfredo a Shaoxing...
Sim, que eu não vim para a China para passear, e como tal, as minhas responsabilidades como estagiária do Programa Contacto, trazem-me para a Shaoxing Lorenz Bell, uma empresa filial da Lorenz Bell, empresa portuguesa cujo core business é a produção e venda de etiquetas e labels.
Há 3 anos que entrou no mercado chinês, através de uma fábrica na cidade de Shaoxing, na província de Zhejiang, onde irei trabalhar nos próximos 6 meses.
Porém... como estamos no Spring Festival (alguém me vai explicar o Spring quando estão graus negativos lá fora!), a China fecha durante duas semanas, e como tal, a nossa fábrica também está fechada e os seus inúmeros trabalhadores de férias. Mas lá fui eu com o Alfredo conhecer as instalações.
Para quem vinha da Sonae Capital, o choque de ir trabalhar para uma fábrica é real. Para uma fábrica com uma máquina de fazer etiquetas, um armazém, um escritório com 4 secretárias e uma sala de reuniões com a luz e o ar condicionado avariados, é um bocadinho maior.
Mas se fosse para ficar num lugar confortável, nunca me teria proposto a este desafio... Por isso, nada de desanimar!
Check in no Hotel Margaret (para os chineses Mágalita), não sem antes esperar quase uma hora para se resolver uma questão acerca do contrato da empresa com o hotel, sem ninguém se entender e acabar por pagar o preço de tabela, porque já não estava mais para os ouvir.
Jantar no restaurante chinês do Hotel, conhecer o gerente cujo nome inglês (todos os chineses têm um nome ocidental, por norma, inglês) é Monica, começar a provar as iguarias, apesar do Alfredo jamais permitir chinesices esquisitas numa mesa onde ele esteja sentado. Um frango que vem na caçarola ainda com a cabecita lá dentro e uns bichinhos do mar ou do rio whatever que prefiro não saber muito bem o que são.
No fim, Starbucks, a segunda casa do Alfredo (senão arriscar dizer a primeira), onde um delicioso Cappucino acompanhou a minha introdução ao mundo da Lorenz Bell e da cidade de Shaoxing.
Quarta-feira, acordar às 10h30 com uma notícia fantástica: almoço na casa do Conan, responsável do governo pelo investimento estrangeiro na região de Paojian, onde está a fábrica da LB.
Governo, beeeem, pensei eu... Montado na sua mota eléctrica (já um patamar acima da bicicleta), leva-nos em direcção da sua casa, num bairro de Shaoxing que mais parecia tirado dum filme brasileiro de favelas. Somos recebidos pela família toda (mas mesmo toda! Primos, tios, cunhados, primos dos primos), e somos sentados numa mesa redonda com os homens. De entre as iguarias que consegui experimentar ao pequeno-almoço (eram 11h30 da manhã), distinguem-se os dumplins (um deles foi parar à minha tigela de sopa/arroz/restos - escorregadios os motherfuckers!), tartaruga, e alguns vegetais, frutos secos e sementes!
Arranjada desculpa qualquer para nos pormos a milhas, deixamos os espanhois a jogar Mahjong, fomos comprar o meu telemóvel, onde assistimos a um senhor que devia estar muito zangado com a operadora, aliás, pelo tom de voz, devem lhe ter feito mesmo muito mal...
Mais uns passeios na cidade, jantareco no BananaLeef, um tailandês e o melhor restaurante de Shaoxing segundo o Alfredo (e eu julgo concordar com ele nessa questão), com os espanhóis, e, na loucura, um Cappucino no Starbucks, onde continuámos a nossa saga pelos meandros da LB.
Dia seguinte, brunch no MacDonalds (há que tornar tudo um bocadinho mais chique...), abrir conta no banco (os sacanas obrigaram-me a depositar 1 yuan para abrir a conta, ladrões!), e toca a andar para Shanghai de autocarro, como faz parte da tradição fim de semanesca. Tugas reunidos para jantar no italiano DiMarco e depois umas margaritas no Laris. Agradável.
Sexta feira, depois de apresentação no AICEP e inscrição no Consulado, fui com a Maria arranjar as unhas! Sim, porque há coisas que uma mulher não pode dispensar e a manicure é uma delas! Um sítio muito giro, onde as massagens e a depilação ficaram por lá passar... Nova reunião para os tugas comerem, desta vez, num pseudo-mexicano, e nova incursão na noite de
Shanghai: Bar Rouge e Mao, com direito a sushi e tudo!
No sábado, é claro que dormi quase o dia todo (o jet lag, claro, não pensem que me deitei às 7h da manhã...), e depois de preguiçar, lá fomos jantar ao um nepalês muito fixe, com salinha só para nós, pezinhos descalços e sentados em cima de almofadas. Ainda conseguimos ir ao De La Coste, e para variar, ao Rouge e ao Mao...
Domingo tivemos almoço na casa do Manuel, o nosso mais-que-tudo aqui em Shanghai. Pelos vistos, em minha honra, que sou a pobre coitada que vive na província, longe da civilização. A comida boa, o vinho melhor, a casa linda de morrer, e até houve bailarico. Regresso a Shaoxing, onde ainda houve direito a massagem chinesa. Tudo muito bom, haja mais domingos assim...
A semana seguinte foi passada a fazer o roteiro gastronómico da cidade: MacDonalds, Pizza Hut, KFC (existem imensos KFC's e apenas um Mac e uma PizzaHut), restaurante do hotel, japonês que não tendo sushi tem uns arrozes bem saborosos, turco, tailandês. Nos intervalos das refeições entrevistamos a nova Office Assistant, a Peggy, fizemos os meus cartões de visita, fomos ao banco tratar das contas da empresa (3 vezes!), fomos á fábrica (já conheci o Tom, o director de produção e o Sun, um dos operários da fábrica), e claro, ao Starbucks! E como verdadeiro guia turístico, o Alfredo ainda me levou a uma casa de chá muito gira, a conhecer o mercado da rua onde comemos um ananás em espeto, às massagens (a 4,5€/hora nunca são demais) e a dar passeios nocturnos pela cidade...
E na sexta, adivinhem... Shanghai, why not?
Mais uns passeios, umas saídas pelo Bund, um jantar no japonês com salinha e chefe só para a cada vez maior família tuga. Domingo uma ida ao Fake que se prolongou e que nos fez perder o último autocarro para Shaoxing. Toca a esperar 3 horinhas pelo comboio da meia noite. O que não valeu uma musiquinha, um livro, e a boa companhia... ; )
Nova semana...
Segunda feira foi o último dia dos festejos do Ano Novo Chinês (Spring Festival), e com isso mais uma dose de bombardeamentos o dia e a noite toda. Foi também o primeiro dia da Peggy, por isso tivemos que acordar cedo e tomar o pequeno almoço no Margaret. Salvaram-se os ovos e o bacon, o chá preto e as fatias de melancia, e umas fatias de pão de forma com uma coisa que pretendia ser manteiga mas ainda tenho as minhas dúvidas... Quanto às restantes iguarias, não sei o que seriam, nem quero... Depois de um dia de trabalho na fábrica fomos tomar café com o Tom que anda muito tristonho porque o Alfredo vai embora... Até dá dó, pobre do mocinho. Eis que no meio da conversa, ele me diz que eu sou a Ocidental mais bonita que ele já tinha visto... Ele realmente tem os olhos quase fechados, não deve ver lá muito bem... Ou então viu poucas ocidentais na vida dele... Não desfazendo...
Terça feira fica assinalada pela remoção da Árvore de Natal do Margaret (note-se, dia 10 de Fevereiro). Entre preguiça ou tradição pelo ano novo chinês, fico-me pela primeira hipótese.. Semana de novo dedicada ao roteiro mundial de restaurantes: tailandês, indiano, japonês e sempre sem faltar aos americanos do costume.
Quinta feira levei as minhas coisas para a casa do Alfredo, que será, a partir de hoje, a minha casa. O Alfredo foi de tarde para Shanghai, para não voltar a Shaoxing. Foi difícil para mim olhar para aquela cidade, à vinda da fábrica, e não ter ninguém para partilhar o passeio, as luzes, os carros, o olhar das pessoas. Foi o meu companheiro, o meu guia, o meu colega, o meu mentor. Talvez por estar tão longe de tudo, e as coisas se sintam em dobro, mas tornou-se em alguém especial para mim, nesta nova etapa da minha vida.
Sei que queres voltar. E eu espero mesmo que voltes...
Sexta acordar para a realidade. "Estou sozinha." Meto-me num autocarro, a precisar de colinho dos meus meninos de Shanghai.
Sábado, Valentine's Day! De manhã Fabrics para encomendar um casaco e uma saia feitos á medida, e à tarde um looooooongo passeio no gigantesco Shanghai Zoo. Muito louco! Chegada a nova C13, fomos ao jantar típico dos tugas a um restaurante chinês e a saída não menos típica pelo Velvet, Rouge e Mao.
Domingo foi, sem dúvida, a bad day. Voltar a Shaoxing sozinha, pela primeira vez, custou muito. Entrar numa casa que não é a minha, mas também já não é de mais ninguém. Uma sensação de não pertencer a lado nenhum, adormecer a desejar acordar junto de um cantinho à beira mar plantado, que pode ter todos os defeitos, mas é o meu...
Segunda não consegui ir trabalhar. A semana seguinte dividiu-se entre uma deslocação a Shanghai para uma reunião com a Staples, as normais visitas à fábrica, e idas diárias ao Carrefour, nas tentativas sempre frustradas de comprar mantimentos para os próximos meses, que terminavam quase sempre num pacote de noodles instantâneos. Depois de alguns dias de chuva, na Quarta o tempo melhorou e, depois de jantar no Mac, e tomar um Cappucino no Starbucks, vim a pé até casa e senti-me bem...
Black Friday.
Confusão com o senhorio. Depois de mostrar os canos da cozinha que estavam meios podres, tudo começou com o problema da televisão, que pelos vistos não funcionava.. Ora bastava levá-la para arranjar ou comprar outra, mesmo mais pequena. Não, andaram a mudar tudo, de baixo para cima, então ia ficar com o plasma no quarto, em cima do móvel que acabava por não ter funcionalidade nenhuma (assim como a secretária mas não conseguem tirar porque as portas foram colocadas depois), sem lugar para o espelho, e na sala ficaria sem TV, com um buraco na parede, e com o mamarracho do quarto para lá enfiado.. Ora eu não preciso de nenhuma mansão, mas para viver aqui minimamente bem, preciso de me sentir confortável na minha casa e assim não conseguia. Além do mais, enervou-me a atitude do senhorio. Disse lhe que assim não queria a casa, que além disso era muito cara para o que era, e ele, tudo bem. E ainda se pôs a reclamar acerca duns dinheiros do contrato do Alfredo, e eu já nem olhava para a cara dele. Assim, depois de arrumadas todas as minhas coisas (e algumas do Alfredo porque fiz questão de não deixar nada para a besta) vou de novo para o Margaret.
Mais tarde, depois de uma tarde de trabalho que muito me custou, valeu-me a preciosa ajuda da Peggy e do namorado Jay, que me ajudaram a tirar tudo de casa e levar algumas coisas para o hotel e outras para a casa deles (porque eu trouxe tudo, incluindo estendal, electrodomésticos, utensílios de cozinha, comida, parecia a verdadeira cigana com a casa às costas!). No fim, convidei-os para jantar e eles levaram-me a experimentar um HotPot, com mesas com uma espécie de Wok no meio, pede-se a base, o molho, os ingredientes e manda-se tudo lá para dentro. Bem bom!
Primeiro fim de semana em Shaoxing.
Acordei bem cedinho, a tempo do pequeno almoço no hotel, e lá fui eu em busca de algo a que pudesse chamar "casa". Com a Peggy comigo (o que seria de mim sem esta miúda!), e depois de vistas 3 casas e 2 pardieiros, encontrei uma boa casinha, em bom estado, bem equipada, boa luz, com um senhorio educado, lavandaria e três varandas! Tirando ser um 4º andar sem elevador (o que até vai ser bom para a saúde e a silhueta), é a casa perfeita para mim. Mas só me posso mudar durante a proxima semana.
Depois de ir a casa do Jorgan (um sueco que vive aqui há 5 anos), fui com a Peggy ver as lojas da cidade, as de rua, as de mercado manhoso, as de shopping. Há de tudo, é só escolher. Às 17h30, hora de jantar, fomos com o Jay jantar a um restaurante cantonês, onde estava tudo delicioso, incluindo as patinhas de galinha... Antes de ir para o Hotel, ainda deu tempo para comprar um porta-moedas do Mickey, o que me torna, oficialmente, 10% Chinese!
O domingo foi solitário e chuvoso. Aproveitei para dormir, algo que me fazia alguma falta depois desta semana, para conversar com Portugal, e para ir fazer uma massagem, que também veio mesmo a calhar.
Nova semana, nova segunda... Cheia de trabalho, sempre com novos problemas a surgir, coisas novas para aprender e desafios para resolver! Começo a fazer contas ao tempo e a perceber que 5 meses é mesmo muito pouco para tanto que gostava de conhecer e fazer...
Até que chegamos ao dia de hoje, terça feira de Carnaval (coisa que obviamente não existe na China, até porque aqui já há carnaval que chegue...), quando completa um mês que saí de Portugal. Depois de um dia duro, horas passadas no banco e instituições afins a tentar resolver problemas que não entendo, causados por regras que não conheço, numa língua que não percebo, sentada numa mesa do Starbcuks, dou por inaugurado este espacinho, mais um pedaço de mim e da minha vida. Pelo menos dos próximos 5 meses que faltam...

2 comentários:

  1. Minha querida... li tudo do inicio ao fim e claro tinha que te deixar umas palavras!! Não é fácil estar sozinha e do outro lado do mundo, mas espero que continues com a tua coragem e força em cima e aproveites ao máximo essa experiência única!
    Serei leitora assídua do teu novo blog ;) e estou aqui, a torcer por ti!
    Bjinhos princezinha!!
    Natacha

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