terça-feira, 14 de julho de 2009

Another month, another report...

Como vos disse no último post, estamos, aqui na China, com acesso bloqueado a vários sites, incluindo-se na lista o Blogger, o Youtube, e mais recentemente, o Facebook. Mas, como em tudo nesta vida, (e algo que muito descobri na minha estadia cá) há sempre maneiras de contornar as dificuldades, e através de alguns proxys descobertos na semana passada, já consigo aceder, ainda que não a todas as funções, destas páginas tão importantes para a vida diária aqui!Encontro-me, então, aqui para o meu já habitual relato (talvez um pouco enfadonho e descritivo) da minha vidinha por estes lados…

Os dias vão passando tendo em conta diversos factores que, progressivamente, se vão tornando cada vez mais complicados de gerir. Tenho muitas responsabilidades a cumprir no estágio que me foi atribuído, e sobre o qual aproveito para vos contar um pouco mais:

Primeiro, pressupõe-se que um estágio tenha como finalidade uma aprendizagem prática da nossa formação, e também a existência de alguém que nos ensine, supervisione e ajude. Eu estou à frente de uma fábrica chinesa, sem qualquer apoio cá, e não muito em Portugal, devido à distância física, diferença horária, etc. Tive que batalhar muito para fazer o trabalho que um profissional pediria balúrdios para realizar. Desde que cá cheguei fiquei sem vendedor e sem a ponte de ligação que tinha na empresa em Portugal. Até a minha coordenadora de estágio do Aicep teve de se ausentar do trabalho. Debato-me todos os dias com dificuldades a nível da comunicação, da maneira dos funcionários lidam com o trabalho, sou uma autêntica bombeira a fazer o trabalho de Direcção Geral, Financeira, Comercial, Recursos Humanos, Produção, Secretariado, e ainda, last but not the least, empregada de limpeza.
Isto falando apenas a nível de trabalho, que, aliás, foi para isso que cá vim, mas acrescenta-se ainda que estou sozinha numa cidade pequena, feia, suja, barulhenta, sem qualquer aliciante para uma jovem como eu.
Lutei todos os dias para levar este desafio até ao fim, quando, confesso, cheguei a pensei em regressar a Portugal algumas vezes. Mas não sou desistente por natureza e comprometi-me com o Aicep, com a LorenzBell e sobretudo comigo mesma em cumprir esta tarefa. Mas a verdade é que não tive sequer ninguém que testemunhasse a batalha diária que travo, desde que aqui cheguei, há quase 6 meses. E estou exausta.

Este último mês até o meu corpo começou a dar alguns sinais de que está na hora de voltar: dores de dentes, dores de barriga, constipação, tudo numa semana.

Para compensar, comecei a fazer umas comprinhas… Comprar roupa aqui é muito complicado (pelos tamanhos, qualidade e pela própria roupa!), mas já comprei, entre outros, 4 pares de sandálias, uns vestiditos (na H&M), dois calções (na China, sê chinesa), uma camisa, óculos de sol, uma carteira da Marc Jacobs (verdadeira, logicamente!) – uma rapariga tem as suas necessidades “shopaholicas” para compensar as saudades e outras maleitas…

Este mês comecei também a aventurar-me na cozinha. Como está já muito calor para o ginásio (sem ar condicionado torna-se difícil respirar, quanto mais fazer exercício), este foi o novo hobbie que encontrei para o stress! Claro que, pela falta de utensílios, alimentos, conhecimento e jeito, não passei de um arrozinho com legumes, uma sopa, uns ovos mexidos, etc. Mas confesso que estou a gostar (será da fome causada pelas refeições de fruta e iogurte?)

Comecemos então pelo fim-de-semana em Shanghai: sexta feira, chegar, e jantar pizza na casa da Rita, ver o filme “Apocalipto” numa noite entre muito calor e pouco sono, acordar cedo no Sábado, com festa de aniversário dupla a partir do meio dia, com Free “Flowd” (Jervell, meu amor) de tapas e bebidas, um get together na casa do Igrejas (o nosso homem das agulhas) e do Martin, uma festa num hotel com live act de dupla de dj’s tugas, uma passada no Shelter e acabar a noite, invariavelmente, no Mao. Nova noite a debater-me com o calor, o dia a entrar pela janela da sala, resultado: 2 noites em branco. Domingo, almoço rápido encomendado do KFC e venho para Shaoxing, chego a casa às 18h da tarde e aterro na cama até ao dia seguinte à hora do almoço… Estava mesmo a precisar…

O calor continua, cada vez mais difícil de suportar, sobretudo em dias de céu cinzento, e humidade intensa no ar. Mas de vez em quando lá aparece um Sol brilhante e um céu azul que alegra os corações. Mas falta-me sempre o mar, mesmo muito, imenso...

Dia 25 de Junho fica marcado, além de completados 5 meses na China, (e faltar exactamente mais um!) pelo nascimento do meu “sobrinho” João Guilherme, filhote da minha amiga Gi! Muitos parabéns, minha querida! Tens agora a felicidade de viver o melhor amor do Mundo. E eu a alegria de ser a “tia Jane”!

Novo fim-de-semana em Shanghai (as semanas não têm mesmo nada de interessante para contar!): sexta feira mariscada nos botecos da rua, com plásticos na mesa, aventais, servidos em bacias, o paraíso da Asae, mas muito, muito saboroso! Dia seguinte, passada no Fabrics, almoço no Citizen, voltinha em algumas das ruas e lojas da cidade, lanche ajantarado maravilhoso na casa da Maria de queijos e pizza, sessão obrigatória de cinema “The Painted Veil”, uma história passada na China, entre Shanghai e os arrozais do Sul, com uma fotografia simplesmente espectacular. Domingo foi um dia épico em que eu e a Maria fomos à praia em Shanghai! Ok, eu vou corrigir, fomos à piscina de um empreendimento em Pudong, com areia, palmeiras e até ondas! Foi um dia fantástico, o sol foi amigo e ainda deu para um “piqueno” bronze. E com o calor que tem estado… passar o dia na aguinha foi mesmo muito agradável! No fim, mais uma volta nas ruas/lojas, jantar no Japonês do costume, com a Marta e a Rita, e a última sessão do fim de semana: “He’s not that in to you”, comediazinha pipoca mesmo boa para domingo…

Vim segunda para Shaoxing, com a neura habitual, uma viagem a cair para o lado mas sem conseguir adormecer (típico!), directamente para a fábrica, começar a stressar, vir embora, comer a minha mais recente descoberta na secção dos importados do Carrefour: Muesli (Premium!) com iogurte de aloé vera, nham nham. Mais uma semaninha do costume, pagar contas da casa, ir com a Peggy às compras nas lojas manhosas e baratas da cidade, algum trabalho a partir de casa, umas últimas idas ao ginásio (eu tentei!), às voltas com o trabalho para o Aicep.

Voltamos ao fim-de-semana em Shangai: sexta feira, jantar no Ooedo (japonês) com os contactos mais “belhotes”, e apesar do Sakê quentinho, resisto à tentação de ir sair, e fui para casa (desta vez da Rita – estou a ficar a verdadeira saltimbanca!), onde vi um dos filmes mais cómicos dos últimos tempos “Don’t mess with Zohan”, com Adam Sandler num papelaço! Ri-me à séria, sozinha (e não foi do sakê!) Sábado foi dia de compras, sobretudo comprar recuerdos para os amigos e família no Fabrics e no Fake, jantar no DaMarco, e uma ida ao Mint com o Rapazote e o Tiago, um C10 que anda aí a dar a volta ao Oriente e que acabou por vir comigo para Shaoxing durante dois dias, para conhecer “the real china”! Antes disso, no domingo, mais uma voltita pela cidade, umas sandochas e mais um filme “The visitor”.

Segunda-feira foi, assim, diferente, a começar com um pequeno-almoço no 85, e a ter companhia na viagem para Shaoxing. Os dias seguintes provaram que, com uma boa companhia, tudo se torna mais fácil. No meu papel de guia turística, andámos pela cidade, pela rua principal, pelos jardins, pela parte antiga, demos o passeio de barco nos canais, fomos ao Ajisen, ao BananaLeaf, ao HotPot, às massagens, ao Starbucks, até ao Carrefour. Quarta lá foi o Tiago para Beijing (18h bus), e ficar sozinha de novo trouxe um sabor amargo. Ao menos a boa notícia de ter encontrado o proxy para levantar os bloqueios da internet… No dia seguinte, o primeiro de uma série de 3 dias com enxaqueca e sexta-feira, claro, Shanghai.

Jantar no Nepalês com uns amigos do António e a Andreia, uma professora de Português que também esteve desterrada numa cidade de província, mas no Norte da China, perto de Harbin, onde no Inverno a temperatura atinge os 25 graus abaixo de zero e com Beijing a 1000 km de distância. Pela semelhança das experiências, pela empatia que se criou quase de imediato entre nós, demo-nos bastante bem. Sem dúvida que uma das coisas que este programa me deu foi a possibilidade de conhecer tanta gente interessante num (relativamente) curto espaço de tempo. De volta a casa da Rita, no meu quarto cheio das tralhas do Gago (que vai morar com a Rita numa nova casa) e do Kelly (que vai voltar para Portugal), claro que ainda vi um filmezinho para adormecer, desta vez “Transiberian”. Sábado, depois de dormir 3 horas, nova passada no Fabrics, ir almoçar com a Ritinha à Vinoteca (estou apaixonada pelo espaço, pelo conceito, pela comidinha do El Willy e claro, pela companhia!), um breve descanso antes de ir para a festa de despedida do Kelly (e também um pouco dos C13 que vão embora durante a próxima semana), um Barbecue no Sasha’s, com free flow de vinho, e um calor abrasador. De seguida Bar Rouge, também em jeito de despedida, e claro… adivinhem: Mao! Domingo, acordar às 16h da tarde, ir ver a casa nova da Rita, onde me deliciei com um Big Mac, uma Big Coke e uns episódios do Tom&Jerry (já agora, parabéns, a casa é um mimo!). De volta, nova casa, desta vez, o Technotronics dos meninos onde, depois de um belo jantarinho, vimos o filme “Duplicity”, com a Julia Roberts e o Clive Owen, muito giro.

E chegamos ao dia de hoje, segunda-feira, que foi um dia daqueles que mais valia não sair de casa. Acordo estremunhada, não sei do telemóvel no meio das tralhas todas, vou buscar o meu qipao (o vestido típico chinês), e não está bem, saio para voltar dali a uma hora, vou tomar o pequeno-almoço no 85, volto lá, continua mal, chateio-me, fica o vestido e eu com o dinheiro, espero 15minutos por um táxi, um calor de morrer, caem-me os óculos ao chão, partem, um trânsito infernal, o autocarro para Shaoxing cheio e podre, só arranjo lugar atrás, com o ar condicionado de porcaria, o condutor a buzinar o caminho todo, eu a cair para o lado de sono e de falta de ar e de calor… Finalmente chego a casa (o quarto a 40º), sento-me no sofá, ligo a Internet, percebo que não tenho saldo no telemóvel, recebo a notícia de que a pessoa que me ia levar uma mala extra para Portugal (só tenho direito a 20kg – Lufhtansa no seu melhor) afinal já não ma leva, vou fazer uns instant noodles porque não tenho mais nada, queimo-me com o vapor da água a ferver. O que vale é que já passa da meia-noite e a terça feira tem, mesmo, que ser um dia melhor…

Porque os dias aqui são sempre imprevisíveis, e variam, como um pêndulo, entre alturas alegres e cheias de energia, tempos de paz e tranquilidade, e momentos de profunda tristeza e saudade ou de nervos e ansiedade. Mas assim é a vida, certo? O facto de faltar tão pouco tempo traz sentimentos contraditórios, porque a vontade de regressar é imensa mas esta experiência, apesar de muito cansativa, esgotante e um pouco frustrante, foi, até agora, "A" experiência da minha vida e há sempre alguma nostalgia em deixar tudo (ou, pelo menos, as coisas boas) para trás. Os fins-de-semana em Shanghai, apesar de também cansativos (pela viagem de 3horas, pelas noites mal dormidas em sofás emprestados, e, claro, pelas festas, passeios, etc), são bastante reconfortantes, e eu própria decidi outro tipo de postura relativamente à empresa, tentando não me incomodar tanto (pois se outros não se incomodam...) Por isso, sim, estou mais animada. Até porque daqui a menos de 2 semanas estarei de volta ao meu país, à minha família, aos meus amigos, ao meu céu azul e mar imenso, e todas as más experiências passarão a ser pedaços diminutos no meio dos 6 meses mais surpreendentes de toda a minha vida.

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